quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

RETRATOS DA VIDA


                  O MENINO DOS LIMÕES

Hoje passei por um menino
que vendia limões (na esquina).
O menino, distraído.
Os limões
empilhados,
arrumados,
contados: bonitos, até.
Distraído, o menino olhava para outro lado.
Será que pensava?
Quem sabe? Talvez ... na vida
que corre diante de seus olhos.
Talvez ,,, no tempo que corre,
que passa
(e não volta)

E os limões arrumados,
empilhados.
E o menino, distraído.
Pensativo.
E o tempo que corre,
que passa.

E o menino que passa.
Passa e espera.
Espera. Passa.
E os limões
empilhados,
contados: bonitos, até.
E ele que se distrai.
E ele que pensa.
E ele que espera.
..........
E ele que passa...




                           
                   O VELHO E O CÃO

O velho e o cão.
Juntos, sempre juntos.
Cão, enrodilhado.
Velho, encolhido.
Amigos na pobreza.
Pobreza? ... não: miséria.
Velho encolhido todo.
Cão todo enrolado.
E gente que passa,
e gente que os vê.
E gente que se inclina
e deposita moeda no chapéu roto.
Mas gente há que passa ... e não vê.
Ou vê ... mas não se toca.
Ou que até se comove ...  mas não dá.

E o velho, todo encolhido.
E o cão, junto, enrodilhado.
Solidários na miséria.

Triste retrato                                                                          
 real, presente,
deste velho mundo
cão.

sábado, 27 de novembro de 2010


                                     RELIGIOSIDADE



          PRECE

Que o Santo Espírito agora me envolva
e me oriente a mão, e que me anime
e sopre as palavras certas; devolva
a paz que sinto prestes a fugir-me.

Que tal ânimo jamais enfraqueça,
mas sobre para reparti-lo ainda
com todo que necessite e mereça
para bem viver esta vida linda.

Que, na verdade, sendo a vida do homem
objeto maior da morte de Cristo
a ninguém é dado dela dispor.

Fujamos aos erros que nos consomem.
Sigamos Sua Lei fundada nisto:
é preciso viver com muito AMOR!


 


          AMOR MAIOR
               
Dos antigos moldes e aplaudidos poemas
que vibram tanto e fazem suspirar ainda
antigos e jovens - novos e velhos temas -,
eu (ousado) quis também compor obra linda.

Asas à imaginação – que o dia já finda
novamente – “faça-o logo” -- eis o meu lema.
Mas ... a mensagem? Ah! seja muito bem-vinda,
Pois o AMOR, sempre o AMOR, é meu eterno tema.

Amor universal, platônico, materno,
quente amor sensual, ou simples amor terno,
tudo é amor. Porém, no sentido mais profundo,

quero cantar, quero invocar o AMOR FRATERNO;
esse – sim – e só esse, pode por fim ao inferno
de vergonha e sangue que cobre nosso mundo!
       
         



            A INSPIRAÇÃO DO POETA
        (“Deus é a necessidade das necessidades”- Rui Barbosa) 

Perguntaram-me um dia:
- É fácil fazer versos? / Como compor um poema?
Fácil é -, respondi: basta ser poeta.
- Mas...em que me inspirar?
Em tudo – de imediato lancei –
pois o verdadeiro poeta em tudo se inspira.
 - Por quê? 
Porque tudo é poesia.

- Mas...tudo?

Sem exceção.

Vejamos:
Se olhamos para cima (onde o céu, o infinito)
lá encontramos poesia.
Certo?
- Certo.
Ao baixarmos os olhos, o que vemos?
- Bem, vemos a terra, as flores, o mar ...
Poesia!
- Pensando bem: tem razão. Isto é tudo?
 Não. Tudo não é apenas céu, mar, terra, flores.
Tudo é tudo.
Tudo é...o sorriso de uma criança...
 - ...poesia! 
Tudo o que nos cerca – a natureza toda...
 - ...poesia!
 A simplicidade das coisas e das pessoas...
 - ...poesia!
 Até na ingenuidade de alguém há...
  - ...poesia!

 O amor é poesia.




sexta-feira, 19 de novembro de 2010


                                        LIÇÕES DE VIDA




            MEIO-HOMEM

Lá vem ele:
cabeça erguida,
forte,
tranquilo,

cheio do que falta em muito homem.

Cabeça erguida,
lá vem ele
em seu veículo privado.

Quanto homem inteiro inveja aquele
meio-homem!

        


            ELO VITAL

Vêm ambos pela rua braços
   dados:

seguros,
otimistas,
confiantes um no outro
veem.
Braços dados vêm.

Vivem o sol claríssimo,
felizes,
através do vidro negro.           



            CONTRASTE

Pela rua
movimentada
vem ele.

Tranquilo.

Passa esquina,
passa carro,
passa gente,
passa ele.

Independente.

Toc-toc-toc-toc cadenciado segue ele.
Dirige seus passos o toc-toc da bengala.

Pela rua vem ele
feliz, cantarolando.

Quanta gente infeliz o vê!
E ele – feliz  -  não vê ninguém...

Apenas segue seu caminho:
Toc – toc – toc – toc.

Sereno – cantante -  feliz.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

SONETO DO FIM

A gente
             de repente
                                      vai.
Cai

o pano.
Abandono
da matéria.
Face séria,

sem cor.
IMOBILIDADE
total.
                                      Final.

...................................................                        
Amor.
                                                Saudade.

domingo, 31 de outubro de 2010

HOMENAGEM

Aos meus queridos filhos ADRIANO, ANDRÉ e ANDERSON, e à minha DOCE neta MEL.


INSPIRAÇÃO MAIOR

Quando despertei, esta manhã,
de um sono tranquilo,
e abri os olhos -
- maravilha das maravilhas!
Onde pousou meu olhar ainda vacilante?
- Nos olhinhos do menino meu!

Seu sorriso radiante,
descobrindo os dentinhos tenros,
me emocionou.

Aquele semblante sereno
me enterneceu.

E me comoveu
a paz daquele momento.

Parece mesmo que chorei.

De ternura,
de Amor,

De PAZ!



MANHÃ QUE VALEU UMA EXISTÊNCIA

Passei hoje uma manhã - bela manhã! -
que valeu por uma vida inteira.
Manhã de sol brando qual manhã primaveril!
Natureza tranquila e soberba.
Espírito calmo - : paz!
Tranquilidade e paz dadas por uma criança.
Por minha criança! ...
... que corria pelo quintal abençoado –
- pequeno mundo de um pequeno ser.

E o menino a correr atrás da bola.

Aquarela maravilhosa e terna:
a criança, rosada pelo sol em manhã esplendorosa.
O verde dos arbustos do seu pequeno mundo.
No alto, o azul sereno da imensidão misteriosa.
Rosa: vivacidade!
Verde: esperança!
Azul: paz!
Oh! Deus!... Sim: Deus! Como Vos vejo
nesta beleza toda.
Como Vos sinto em mim
e naquela criança que me destes,
e no infinito admirável!
Como Vos vejo e Vos sinto,
Meu grande Deus!

E a criança a correr,
e a sorrir,
e a cair, também.
Tudo isto é belo.
Tudo isto é Deus.

O Manhã! Ó Felicidade!
Manhã que bem valeste
toda uma existência:
volta, Manhã de sol,
pelo menos uma vez mais!



EXALTAÇÃO À CRIANÇA

Criança
que corre
e não cansa;
que ri e chora
e se apavora
com medo do bicho-papão:
criança, te amo!

Criança
que cai/se levanta;
que canta
e tanta
felicidade nos dá:
te amo, criança!

Criança:
anda/dorme,
vai/fica
e sai.
Te amo.

Pobre, rica, miserável criança.
Te amo, esperança!

Fagulha que se transforma em fogo.
Que queima: destrói o mal.
Chama que ilumina caminhos,
afugenta a escuridão.

Esperança
Chama
Criança.

Te amo!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

CONTRASTES

De meu mundo vago e pessimista
admiro a definição do céu azul-claro.

As árvores que apontam para esse mesmo céu,
dançando ao ritmo da brisa leve,
me falam de otimismo, retidão e alegria.

O beija-flor que daqui vislumbro
em torno a belas flores amigas
me falam muito de ternura e de amor.

E esse verão que principia a fenecer...
E este outono que sinto já chegando manso...
E essa tarde que cai um tanto melancólica, mas firme...
E esta noite que se aproxima lenta...

Essa inexorabilidade me estremece,
me sacode, me movimenta,
não me deixa pensar,
me impele ao amor.

Porque:

Nuvem passa.
Árvore tomba.
Cessa brisa.
Ave morre.
Murcha flor.

E eu tombo.

E murcho.

E passo.

sábado, 23 de outubro de 2010

ESPÍRITO/MATÉRIA

Cabeça baixa sempre pela vida,

cabeça baixa sempre para a vida.

Espiritualmente.

Nada enxerga da vida,

nada curte da vida:
apenas matéria.

Pisa quase linda flor: não vê, não sente.

Insensibilidade? Não - : materialidade.

Gestos, palavras, perguntas, exclamações: nada vê, nada ouve.

Insensibilidade? Não - : materialidade.

Muitas pessoas passam uma vida sem exercer sua sensibilidade.
Somente o corpo se liga à mãe-natureza.
Quando cai.

RELAX (I)

Ah! sentar sob sombra amiga

..................................................
até sentir saudades do sol.


Ah! ouvir não mais que o murmúrio de um rio

................................................................................
até cansar de tanta quietude.


Ah! respirar profundamente,
simplesmente,
despreocupadamente,
.............................................
.............................................

até não mais conceber outro ar.

Absolutamente.