domingo, 6 de maio de 2012

HOMENAGENS

2.                    "Fiat justitia" (a Sávio Soares de Souza)

..........
E o bom poeta foi atirado
pra lá ...

Abruptamente.
Desdenhosamente.
Antipaticamente.

E - pior que tudo -
INJUSTAMENTE.

Antes: relegado, só, num cantinho.
Empoeirado.
Amarrotado.
(Até de cabeça para baixo!)

Fiz-lhe justiça: coloquei-o entre os bons.
Promovi-o, amigo poeta.

Depois, a mão bruta,
desdenhosa,
antipática,

INJUSTA,
arremessa-o no antigo canto.

IGNORANTEMENTE!
(por isso, afinal, perdoável)

Decepcionado, deixo a loja.

                                                                   (02/71)                                     

HOMENAGENS

1.                    "Memento, homo ... " (elegia para um companheiro velho)

 Aqui mesmo nesta sala
muitas vezes o via.
Observava-o. Semiencurvado
sobre o amigo livro
ele, meu amigo,
isolava-se de tudo.

Nada ouvia.
Nada falava.
Nada sentia.

Esses momentos vivia-os
para o livro amigo, exclusivamente.
Talvez, mesmo, seu único companheiro.
Seu confidente solitário.

Agora está morto.
"Reversus est ad locum suum."

Agora é nada.
É pó - caído.

Mas ... parece que o vejo:
levanta-se da terra;
resmunga alguma coisa;
bate o pó de sua roupa
e ... corre,
alucinado,
apavorado de si mesmo,
de seu espectro,
de seu cadáver.
Eis que entra por aquela porta.
Sim, lá está ele:
quieto, tranquilo, circunspecto.
Inclina-se sobre o livro amigo,
faminto de novos conhecimentos.
Isolado de todos e de tudo.

Nada ouve.
Nada fala.
Nada sente.

Há um segundo sua cabeça pendeu sobre a mesa;
cansado, adormeceu.

Sim, ele dorme.
Mas não o sono ligeiro.

Meu amigo faz sua sesta derradeira.

E o vejo, dormindo assim,
tranquilamente,
eternamente,
sob a terra que tão bem soube honrar!

E nada ouve,
e nada fala.
E nada, e nada,
pois já nada sente.
                                                           (1968/69)