quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

"Luar do sertão"

Acabei de ouvir os últimos e belos acordes do "luar do sertão", que me transportam imediata e magicamente a São Fidélis, meu berço natal, querida "terrinha", de onde cheguei há três dias, após curta passagem. E já me vejo novamente no jardim de infância Ana Passos, localizado atrás da rodoviária, e bem próximo à margem do majestoso Paraiba. E eis-me outra vez de volta ao passado, há mais de meio século, me reencontrando deitado numa pequena esteira no grande pátio cimentado e coalhado de outras esteirinhas, onde também repousam os outros meninos e meninas. Não obstante a recomendação para todos dormirmos, após o lanche, eu prefiro tão-somente permanecer quieto, de olhos fechados, ouvindo - fascinado - a música proposta para nos ninar: "luar do sertão". Tal é o motivo de minha enorme emoção - hoje e sempre - quando, em qualquer lugar e em qualquer circunstância, ouço o "luar do sertão"!

                                                                            Niterói, 01/08/2003

Nota: -
Em 2006, quando preparava meu primeiro CD de canto - "Carinhosamente" (serestas) -, estive a ponto de desistir da inclusão do "luar do sertão", tamanha a emoção que me envolvia sempre que tentava interpretar os versos que me transportavam à querida "terrinha"!

                                                                              Niterói, 10/01/2019 
                                                                                           

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

"A quem interessar possa"

.                    Naquele ano decidi-me a pesquisar sobre cursos de alemão, na Alemanha. Como havia pouco terminara o curso básico no Instituto Cultural Brasil-Alemanha - ICBA - (ou Göthe Institut - GI), e àquela altura já iniciara o nível médio, era normal pensar de imediato nos cursos que esse Instituto mantém naquele país.
                   
                    Assim é que providenciei logo pedido de informações à central do GI, em Munique. Escrevi em inglês, procurando evitar a possibilidade de algum mal-entendido, pois ainda não dominava o idioma alemão com a segurança necessária para manter correspondência.

                    Nesse ínterim, através de colega de trabalho, impressionavam-me bastante fatos diversos por ele narrados - pessoa da mais alta confiabilidade - , envolvendo amigos seus e conhecidos, e também ele próprio, e uma entidade espiritual. Acontecimentos praticamente incríveis me foram relatados, presenciados mesmo por esse amigo, ou dos quais tinha ele seguro conhecimento.

                    Após certa - pouca - espera, a partir de meu pedido de informações sobre os cursos, recebi os prospectos. Examinei-os e, em seguida, solicitei detalhes a respeito do curso em determinada cidade, onde uma colega do ICBA havia estudado e sobre cuja experiência tecera comentários positivos. Passei, então, a aguardar, com certa ansiedade, essas informações.

                    Enquanto isso, impressionavam-me cada vez mais os relatos do amigo sobre os feitos da entidade espiritual a que me referi. Fiz, então, contato telefônico com o médium que incorporava essa entidade, e expus-lhe minha intenção de viajar à Alemanha para fazer um curso do idioma germânico. Fui, entretanto, aconselhado a não empreender tal viagem, sob a alegação de que me seriam - a mesma e o curso - bastante dispendiosos. Embora desapontado, aceitei de imediato o conselho, tal a confiança que me inspirava o conselheiro. Assim, ao desligar o telefone, já havia desistido daquela ideia. Efetivamente, daí em diante não mais pensei na viagem.

                    Poucos dias após o citado contato, passei a sentir algo estranho, que jamais experimentara, principalmente quando atravessava a ponte Rio-Niterói, o que fazia diariamente. Sentia a sensação de que algo estava por acontecer, uma premonição. Abalava-me fortemente tal sensação, ao mesmo tempo em que, ao mirar a baía de Guanabara, frequentemente assaltava-me a impressão muito grande de ver outro lugar, que, inclusive, tinha algo a ver com água. Considerei realmente bastante esquisito aquilo tudo, e comentei com o amigo o fato, nada podendo ele me esclarecer. Diga-se, aliás, de passagem, que certa vez, antes mesmo da primeira carta, solicitando informações sobre o curso, ao comentar com esse amigo o desejo de fazer um curso de alemão na Alemanha, ele - espírita e médium - dissera-me: - "quem sabe você faz esse curso de graça?" Considerei isso apenas brincadeira, não dando mesmo o menor crédito àquela interrogação.  

                    Nada obstante a estranha e enorme sensação que continuava a sentir, não mais pensava no tal curso. Prosseguia meus estudos no ICBA, e já até me esquecera da carta que havia remetido ao exterior ou, pelo menos, nela realmente jamais pensara novamente.

                    Certo dia, surpreendi-me ao receber correspondência da Alemanha, mais precisamente do Göthe-Institut, em Munique. Surpreendi-me, justamente, por não mais me lembrar daquela carta. Logo concluí, no entanto, que essa correspondência só poderia estar vinculada àquela carta. Bastante desanimado abri o envelope, pois já havia 2 ou 3 meses, desde o telefonema, quando efetivamente desistira do curso. E ali eu iria encontrar as informações solicitadas, o que somente me provocariam desgosto e tristeza, em virtude de minha desistência e, talvez, da impossibilidade, real, de fazer o curso. Ainda assim, levou-me a simples curiosidade a abrir o envelope. Porém, ao tomar conhecimento do conteúdo deste, fui acometido de inenarrável sobressalto, estupefação mesclada com enorme sensação de mistério. Eis que não estavam ali apenas simples informações, mas todo o material necessário para eu atender a um curso de língua alemã, e justamente na cidade de minha preferência, e em data bem próxima. Exatamente como se me houvesse matriculado naquele curso e pago seu valor integral. Após os primeiros momentos de surpresa, e também depois de certificar-me algumas vezes de que, efetivamente, não me faltava senão a passagem para atender ao curso, comecei a cogitar como aquilo teria ocorrido. 

                    A primeira ideia que me veio foi a de que eu havia sido presenteado com uma bolsa de estudo, patrocinado pela igreja alemã católica de minha cidade, à qual me engajara havia alguns anos, e onde desfrutava de simpatias junto, principalmente, ao padre, sabedor de meu gosto pelo estudo de seu idioma. Na primeira oportunidade falei-lhe sobre o assunto, mas ele negou qualquer participação. Essa negativa, entretanto, não me convenceu. Conversando com outros componentes do grupo, nenhum assumiu tal responsabilidade; manifestaram, aliás, também sua surpresa, considerando a eficiência do trabalho de seus patrícios, descartando, desse modo, a possibilidade de engano. Instados, aconselharam-me todos a fazer o curso, naquelas condições. Outras pessoas, entre parentes e amigos, também consultadas, não titubeavam ao sugerir que eu viajasse para a Alemanha a fim de fazer o curso que, gratuitamente, me era oferecido. 

                    Após essas pesquisas e consultas, e muito embora ninguém confirmasse a autoria daquele benefício, decidi-me a viajar. Resolvi fazer o curso, plenamente cônscio de haver sido contemplado com uma bolsa, de autor ignoto.

                    Assim é que me preparei para a viagem, ou seja, adquiri as passagens (por sinal, a prazo), uma vez que já tinha garantidos o curso completo - inclusive material didático - e hospedagem (com café da manhã e meia pensão). Absolutamente seguro do que fazia, voei para a Alemanha, a fim de fazer o curso, com duração prevista de dois meses. 


II.

                    Na Alemanha, naquela pequena, acolhedora, simpática e linda cidade, fui tomado de certa ansiedade no primeiro dia que antecedeu o início do curso propriamente dito, isto é, o dia da apresentação e identificação dos participantes. Após haver apresentado meu cartão, notei que os funcionários se demoravam mais que o normal na minha identificação. Pude entender, pelos diálogos, dificuldades em localizar minha inscrição nas relações dos alunos matriculados. Não tinha dúvida, entretanto, de que tudo se confirmaria. Com efeito, depois de alguma espera, fui identificado, testado e selecionado para determinada turma, exatamente como os demais participantes. Era um sábado, e as aulas se iniciariam na segunda-feira.


III.

                    Começou o curso. Eu, absolutamente tranquilo, maravilhava-me cada vez mais com tudo: com o curso, muito bem organizado; com o grupo, bastante heterogêneo em termos de nacionalidade; com a cidadezinha, um paraíso. Tudo, enfim, corria como num sonho.

                    Num dos passeios incluídos no programa, visitamos uma ilha de onde, através de potente telescópio, podíamos ver a cidade no outro lado. Nessa ocasião, lembrei-me da estranha sensação que experimentara antes da viagem, quando, ao olhar a baía de Guanabara, parecia ver outro lugar.

                    Os dias passavam, o curso desenvolvia-se, e eu sentia consolidar-me a convicção de haver sido beneficiado com um "Stipendium", ou seja, com uma - oportuna - bolsa de estudo.

                    Certa vez, estava eu em plena aula, quando um funcionário pediu-me que comparecesse à secretaria, após os trabalhos daquele dia. Recebi  a solicitação e atendi com absoluta serenidade. Aconteceu então, principalmente, o seguinte diálogo (em alemão): 
                    " - Gostaríamos de saber onde o senhor efetuou o pagamento do curso."
                    " - Eu não paguei o curso. Ganhei uma bolsa."
                    " - Uma bolsa de quem?"
                    " - Isso eu não sei." 

                    Alguns dias depois, numa tarde, novamente chamado à secretaria, contactaram-me por telefone com funcionária da central dos cursos, em Munique. Repetiu-se, basicamente, o mesmo diálogo. Como na vez anterior, mostrava-me completa e conscientemente calmo.

                    Passou-se largo tempo sem que ninguém falasse mais no assunto. Certa ocasião, estando casualmente na secretaria, um funcionário que assistira a um dos diálogos, repentinamente dirigiu-se a mim e fez a seguinte observação: 
                    " - O senhor ganhou um curso gratuitamente em virtude de erro do computador." Nada falei e nada foi acrescentado.


                    ..............................................

                    E assim chegamos ao final do curso.


IV.

                    Cerca de dois meses após meu regresso, escrevi ao Göthe Institut, solicitando me enviassem o certificado de conclusão do curso. Informaram-me, em resposta, que mo remeteriam, sim, desde que eu efetuasse o pagamento. O que não fiz, pois tinha a certeza de haver sido aquinhoado com um benefício sob a interferência do plano espiritual.

                    Hoje, oito anos depois, narro tais acontecimentos, primeiramente para que eles não pereçam comigo, e antes que o tempo apague detalhes de minha memória; e, também, para que se façam sobre o assunto as reflexões julgadas oportunas.

AB/ - 06/89 

                                                             --------------------------


Obs.: - Estou postando  esse texto  no dia 31/08/2017. Ou seja, 28a2m após tê-lo escrito e 36a4m depois do início de tudo.

































quinta-feira, 20 de julho de 2017

Saudade *

Saudade que dilacera
um humilde coração,
onde existe uma quimera
e em que se abriga a paixão.

Saudade sinto de alguém
por quem eu muito chorei:
nada consegui; porém,
nunca, nunca a esquecerei!

Seu nome, constantemente,
eu repito ternamente,
como se fosse uma prece.

Meu coração inda é seu,
porque já alguém escreveu
que um grande amor não se esquece!

* (Poema de adolescente: - não me recordo se esse amor existiu ou se foi apenas fantasia.)

sábado, 16 de janeiro de 2016

HAICAIS*

A UM AMOR

A chuva que cai
lá fora faz-me chorar:
saudades de ti.


A TI, CARO AMIGO

Pensa só no amor
e na beleza da vida,
e serás feliz.


FORÇA

Tenta, tenta sim,
pois o mérito reside
no alcance do fim!

*O haicai é uma poesia japonesa, consistindo de três versos, sendo o primeiro de cinco sílabas métricas, o segundo de sete, e o terceiro de cinco, dispostos rigorosamente dessa forma, não necessariamente rimados, e que encerram uma mensagem e/ou um sentimento.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Soneto do fim

A gente
            de repente
                            vai.
Cai

o pano.
Abandono
da matéria.
Face séria,

sem cor.
IMOBILIDADE
total.

Final.

                         
                            Amor.
                            Saudade.


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

(Este soneto foi escrito antes dos meus vinte anos ...)

                    O anoitecer

Lassos da labuta de mais um dia
regressam os camponeses aos lares:
enxadas ao ombro, serenos olhares,
aqui, alguns conversam; lá, outro assobia.

Declina a tarde: além da serrania
perdem-se os últimos raios solares.
Os pássaros trinam, muitos, milhares.
Badalam os sinos: é a Ave-Maria.

Paira no ar suave aroma das flores.
Há em cada coração uma saudade.
Pálida estrela no céu aparece.

Cessam, aos poucos, todos os rumores.
Logo o silêncio a natureza invade.
Desponta, trêmula, a lua ... anoitece!